Páginas

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Conto sobre a pedra

Os braços dos meus oceanos são caóticos, se espalham. Eu sou selvagem, sem  controle da minha força, sem perceber o caos que gira ao meu redor. Mas se mergulhar em minhas profundezas, verá o quão rico é a minha diversidade, o quanto de vida e harmonia tem em mim. Mas sempre que percorro entre as marés me esbarro na mesma pedra.

Essa pedra. Tão rígida e tão segura de suas convicções, resistente em manter em forma e qualquer gota de minha água em sua pele é um anúncio de fúria.

Nosso encontro produz belas paisagens, nossos choques são ótimas fotografias. Enquanto se apreciam nossas belezas, não se deixam de notar o que há de intensidade e de resiliência.

Não adianta querer que baixe minha maré ou que evapore até o seu chão, cairei em gotas e te molharei por inteiro até te deixar emburrado. É o meu ciclo e não vai mudar, apenas vai te encharcar e estragar seu penteado. Pode navegar, pode se permitir se descolar da superfície. Esse mar parece uma desordem, mas suas correntezas te guiarão para não se perder. Podia deixar que esse jogo de água mole e pedra dura te levasse para conhecer o mundo, podia surfar em minhas águas para desbravar o horizonte, mas agora o clima mudou. O oceano é muito longo para persistir em apenas uma pedra.


domingo, 9 de outubro de 2022

No quiero olvidarte

Podrías ser un ángel que con tan solo una mirada me ha enseñado el valor de la autenticidad 
Has dado un poco de ti y con un poco de ilusión pude ver la belleza que llevo en mis ojos 
Podrías ser solo un amigo, con quien celebraría con vino las ironías de la casualidad 
Cambiaríamos opiniones y experiencias, estaríamos cerca mismo estando lejos 

Podrías también ser solamente una versión exclusiva de algo que nunca volvería a mi vida 
Que después de una efímera noche, el tiempo se encargaría de alejarnos en la historia 
Pero mientras tengo tu silencio, hay fantasmas susurrándome al oído tus palabras de forma aguda 
Ya no puedo seguir sin intentar buscarte una vez más en un juego que no hay victoria 

¿Dónde estás? Después de desnudar mis ojos para entender la locura de mi verdad 
¿Dónde estás? Se ha roto nuestra conexión, cogiste el primer tren y te marchaste 
No puedo explicar entre tantas alegrías y momentos compartidos, qué ha sido realidad 
¿Dónde estás? Te fuiste como si fueras apenas recuerdos…pero no quería olvidarte 

Sigues siendo una luna que estaba llena al sonreírme y al otro día se volvió invisible 
Vacío como un cero, que no importa si multiplico por trece o un millón, sigue siendo un cero
Entonces, pierdo las cuentas y también las cartas en esta apuesta que ya es irreversible 
De qué sirve regalarte mis palabras, si de tu vida, yo soy el extranjero 

Me has sacado a bailar y pensé que sería el estreno de un nuevo ritmo que pronto me erguí 
Pero eran solos pasitos de una grande fiesta de despedida que hoy ni hace ruido 
Sería tan fácil simplemente rendirme y pensar que lo que he conocido ya no es para mí 
Pero tras una baja, la marea de los recuerdos sube y ya no me puedo creer que te has ido

Perdóname por pensar que yo te traería una primavera y solo he sido un invierno que querías escapar
Tuviste que crear esa muralla que me impide de alcanzarte mismo si pudiera volar 
Perdóname por ser un viento helado intentando entrar en tu puerta mientras huyes del frío 
Soy solo un océano deseando que encuentres un espacio para desembocar tu río 

Seguiré entre estrellas buscando un señal o aliento para transformarte en arte
Porque, de verdad, no quería olvidarte
No quiero olvidarte

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Far from the bottom now

Tell me somethin', dad
Se cansou de sempre perder ou apenas não tinha mais quem culpar pelos seus próprios erros? 
Foi difícil explorar os mares sozinho, mas era preciso me desacorrentar de você. 

I'm rising 
Posso ter me corrompido por te deixar afogar. 
Não me orgulho do que fiz mas também não me arrependo. 
Você não queria ser salvo. 

Tell me somethin', father 
Viveu um sonho sem se preocupar com a realidade e transformou a vida de todos em pesadelo. 
Todo amor virou desprezo e eu só precisar escapar. 

I'm rising 
Pela primeira vez não me culpo por não ser o filho que você gostaria. 
Tentei te puxar, mas você insistia que conseguiria respirar em baixo d'água. 
Eu não podia te salvar. 

Eu consigo ver a superfície depois de muito tempo mergulhando no escuro, tenho medo de cair de novo. 
Estou tão perto de emergir, já sinto desaparecer todo peso que deixei para trás para conseguir nadar. 
I'm far from the bottom now. 

(Não me chame, não volte, não quero os seus discursos. 
Não me leve contigo, lutei muito para te tirar de mim. 
Não me chame, fique ai, já me despedi quando respiravas. 
Não apareça mais. Descanse em paz.)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

O vírus

A onipresença não é sempre divina, às vezes é somente um espaço contaminado. Invisível, mas o essencial é evitá-lo porque um Eros que há gerações vem tentando ser construído se perdeu. Foi ocupado pelo conflito entre a mitologia e ciência que eu acreditara estarem pacificado. Eu sempre admirei o caos porque sabia prevalecer diante de tudo que ele é capaz de revelar, agora aceno ao prazer da ignorância pelo limite que se excedeu.

Essa desordem virótica espalhada pelo mundo entrou em meu corpo e não faço a menor ideia de como ou de quando. Só sei que estava em mim. Só lembro de não conseguir me levantar enquanto diversos males adormecidos iam despertando. Sem me dar conta, o que havia extraído do meu interior era mais nocivo que o que eu aspirei afora, pela primeira fez me fizeram acreditar em um fim.

Mais uma vez voltei para um lugar que prometi nunca voltar, era somente a próxima última despedida do que sempre fora um vício. Aproveitei a justificativa de que o caos já estaria em todos os lugares para me render a alguma compulsão e deixar para o amanhã a promessa de mudança. Esse amanhã não vai chegar, e se culpa não for de um vírus, será da minha insônia, será do meu silêncio. O despertar será horrível, como um chamado de ressaca sem nenhuma lembrança.

Não preciso responsabilizar nenhum sintoma, já tenho muitas noites mal dormidas como um peso. Já tenho objetivos que talvez eu nem queira tanto assim somente para priorizá-los e culpá-los pela não realização dos meus sonhos. A doença é outra. Eu já conheço todas as minhas sabotagens e me alterno entre me responsabilizar por elas ou simplesmente aceitar que não consigo para me tratar como um inocente indefeso. Já aprendi o quanto essa leveza pode ser insustentável, por isso, preciso me culpar as vezes. É um equilíbrio compatível com o caos.
Jogo pedras porque nem possuo telhado, sou apenas um campo aberto em meio a tempestade. Enquanto não organizo os roteiros da minha história, me resumo em tirar fotos, momentos pontuais que em minha cabeça são belas paisagens que me lembram pequenos momentos de felicidade. Mas simplificar a vida em coletas de paisagens na memória não me realiza. Com todas minhas partes desalinhadas, posso transformar qualquer belo cenário num local de despedida. A memória seria apenas luto e as fotos, cinzas espalhadas ao vento.

Essa resultante de incompatibilidade de mim não é apenas uma pequena gripe. Fiquei fragmentado pelo espaço e meu corpo apenas tenta acompanhar essa dispersão como apenas um partícipe. Não sei onde vou chegar, mas preciso deixá-lo ir, pelo menos por algum tempo. Se eu conseguir evoluir e voltar a prevalecer nesse caos, juntarei o que sobrou de mim para então decidir se vou à inércia ou reconstituo meu eros, enquanto isso, deixo apenas o meu lamento.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Exílio cotidiano

Lembro-me quando ficava exausto com o diário burguês e passava o dia querendo chegar em casa para ficar alguns minutos sem pensar. Encostar a cabeça no travesseiro e reclamar que mais um dia se passou e eu não fiz nada para mim. Perder algumas horas de sono se frustando por não ter terminar, por esquecer, por ultrapassar a quantidade de calorias e por mais um dia, meus sonhos estão adiados, mas a culpa era do tempo.

Antes um refém da rotina, agora um preso da instabilidade. As paredes do quarto, que eram anseios de escapismo, viraram um tormento monótono. Minguante e claustrofóbico. A cidade que todo dia me deixava sem ar se dispersou e tudo se perdeu. A fumaça se transformou em paisagem que só posso ver de longe. O trânsito, o fluxo, os lugares...tudo se fechou. O que sobrou da minha vida, além de mim mesmo? Não deveria ser suficiente?

Preciso respirar, eu quero um pouco de ar, mas esse é o problema. Vejo uma rua vazia, ensaio uma fuga. Olho as notícias, me rendo a inércia. Abraço minhas crises e meus medos, pois são o que restou de mim. Não posso sair correndo e gritando para arrancar o que faz parte de quem eu sou. O telefone segue segue tocando, os prazos seguem chegando, o mundo está vazio, mas não está parado. Então, os sonhos seguem adiados e as noites seguem em claro, mesmo que agora me sobrem alguns minutos. Então a culpa agora é do espaço?

Eu seu quem é o culpado e com o conhecimento, vem a angústia por não poder apontar um dedo. Minha vontade não possui autonomia e minha opinião já fora cancelada. Só me resta uma voz cansada, que consome minha esperança e acaba não me dizendo nada. Não sei o que estou vivendo, há resquícios de distopia e também de um simples tédio coletivo. Portanto, não consigo me decidir entre me asfixiar na solidão ou aspirar uma contingente destruição.

Ao som de sua alegria foi cancelada.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...